quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Egito Antigo


Esta é uma reflexão sobre o atendimento de jovens com deficiência visual em um ateliê de artes. O ateliê funcionava em parceria com o Projeto AcessoCentro Brasileiro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual na cidade de São Paulo, Brasil.

A cada semestre, buscávamos um tema ou um desafio que instigasse a curiosidade, o processo criativo e a abertura de novas possibilidades e caminhos. A questão da mortalidade surgiu pela grande dificuldade que os jovens tinham nas relações intersubjetivas, pelo seu isolamento e pelo sentimento de desolação diante da morte. A perda de entes queridos, principalmente avós para esse grupo de pessoas, mostrou-se muito sofrida.

Desses nossos encontros surgiram questões sobre especificidades da pessoa com deficiência visual, que fomos reencontrar levantadas por Morin em relação aos seres humanos em geral, como as seguintes: Como a arte poderá auxiliar na construção do sujeito e na sua reconstrução no mundo complexo? Como oferecer acesso às informações e conhecimentos do mundo à pessoa com deficiência visual? Como essas pessoas percebem essas informações e têm a possibilidade de articulá-las e organizá-las?

O Egito no ateliê de artes

Iniciamos nosso trabalho sobre o Egito Antigo estudando seus símbolos, representações e idéias. Nestas relações íamos descobrindo que devemos nos questionar sobre nossos conhecimentos, pois como diz Morin (2000), nele sempreum risco de erro. Nosso conhecimento está inserido dentro de uma cultura, idéias e crenças, e ao estudarmos uma outra cultura, devemos contextualizá-la geograficamente, historicamente e socialmente.

Os hieróglifos foram apresentados em desenho ampliado, recortados e imantados para melhor manipulação e descoberta das peças. Cada símbolo era estudado e trabalhado em desenho que era feito na cartolina sobre uma placa de borracha, com lápis de diferentes níveis de dureza.

A história de Rá, dentro dos símbolos usados pelos antigos egípcios para resolver a questão da morte e a proteção daquele que morria, foi a história que mais mexeu com o imaginário de nossos alunos. Foi uma maneira bastante interessante de se pensar no ciclo solar em relação ao ciclo da vida. É o sistema circular do qual Morin fala, onde somos todos produtos de uma reprodução biológica, tornamo-nos produtores e reprodutores do processo.

Além disso, para aqueles que nunca enxergaram, foi um adicional poético para se compreender como observamos o movimento diário do sol a partir da Terra.

As múmias

Cada aluno fez sua própria múmia. A proposta de fazer uma múmia era a de homenagear alguém.

Ao explicarmos como era uma múmia, utilizamos o próprio corpo do aluno e o colocamos deitado no chão com os braços cruzados no peito. Estudamos como era feito o processo de mumificação e partimos para a elaboração da múmia em argila e as bandagens de gesso.

Viagem do Sol

Os egípcios acreditavam que o sol simplesmente não se punha a cada noite, mas de fato morria e renascia ao amanhecer. O Faraó morto seguia a viagem do sol pelas doze horas da noite para alcançar a vida após a morte. O seu barco se movia no centro do rio. Havia desertos e cobras. Demônios tentavam parar o barco. Várias divindades ofereciam ajuda no caminho. Na décima segunda hora final, o faraó renascia na vida após a morte, e o sol aparecia ao amanhecer como um besouro solar.

Os alunos estudaram que o corpo do morto era colocado em um sarcófago, e que seus órgãos iriam para jarras canópicas. Mas para alcançar a vida após a morte, teria que ser feita uma perigosa viagem pelo submundo.

Este texto foi retirado do livro:

NOGUEIRA, Ana Carmen F. Aprendizagem significativa no ateliê de artes para pessoas com deficiência visual. In: MASINI, Elcie F. Salzano; PEÑA, Maria de Los Dolores J.. Aprendendo Significativamente: uma construção colaborativa em ambiente de ensino presencial e virtual. 1ª Edição São Paulo: Vetor, 2010. p. 103-112.

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