quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ateliê de Arteterapia


Nas sessões de ateliê de arteterapia trabalhei com jovens na faixa dos 12 aos 13 anos, cursando as séries iniciais do ensino fundamental. A queixa básica das famílias era sobre as dificuldades de aprendizagem de seus filhos.

Essas famílias carregam um grande sentimento de angústia, perplexidade e impotência. Para nossos clientes, existia uma percepção de fracasso pessoal.
Tínhamos como meta em nosso trabalho arteterapeutico fornecer a esses indivíduos novas formas de encarar o mundo e oferecer meios para seu desenvolvimento consciente e autônomo.
Os teóricos de arte-terapia são unânimes em afirmar que vivenciar o fazer artístico faz com que o sujeito re-signifique suas experiências, abrindo caminho para o conhecimento.
O ateliê tinha como objetivo oferecer oportunidades para que esses jovens aprendessem para vida, abrindo portas para novas descobertas, através da arte.
O jovem ao descobrir seus potenciais, iniciava a construção de um mundo novo através da liberação de sua imaginação criativa, um mundo de palavras pensamento e ações.
Alessandrini (2002, p.27) fala que os recursos artísticos tem se mostrado bastantes eficientes no resgate terapêutico psiscopedagógico. Uma das função do arteterapeuta é a de facilitar ao indivíduo a organização de seus conhecimento e habilidades na resolução de problemas. O fazer artístico pode desencadear em nossos pacientes, a vontade de saber mais, de fazer e de ser.
As primeiras sessões foram dedicadas ao conhecimento e familiarização dos membros do grupo. Foram executados alguns trabalhos coletivos e a elaboração conjunta de pequenas histórias. Nas sessões seguintes fomos desenvolvendo trabalhos plásticos a partir de um tema levantado pelo mediador em função de algum interesse comum. Foram usados como recursos, várias fontes com ilustrações de obras de artes, livros e revistas, contos de fadas, poesias, materiais de desenho, pintura e algumas tecnologias contemporâneas como digitalização de fotos, filmagens e gravações.
Iniciamos trabalhando a auto-imagem, depois o corpo, o espaço, mundo e mundo interior. Todas as produções foram fotografadas e arquivadas.
As sessões foram estruturadas em dois momentos. O primeiro ocorria um trabalho corporal, com auto-massagem, relaxamento, respiração e meditação. Todos essas dinâmicas tinham como objetivo fazer com que cada um descobrisse o espaço e se descobrisse nele. Em um segundo momento era dado uma consigna e cada um executava a tarefa. O fechamento do atendimento ocorria com a apresentação e discussão dos trabalhos individuais.
Essa prática deu a oportunidade de abertura à diferentes experiências, oferecendo distintas maneira de elaborar as informações que são captadas em seu dia-a-dia.
Nossos clientes tinham em comum, além das dificuldades escolares, uma grande dificuldade de expressão verbal, tanto escrita como oral. Em vista disso, o processo de conhecimento que vivenciamos através das experiências artística permitiu a esses jovens, simbolizar suas percepções do mundo. Isso fez com que iniciassem a concretização de sua imagem interna de um modo mais significativo, canalizando os recursos internos para um processo transformador.
Foi uma experiência muito proveitosa, onde além de notar o crescimento dos clientes, sentimos um crescimento pessoal profissional muito grande. Estar atento às pequenas dificuldades do outro, pensar estratégias para alcançá-los, buscar material para facilitar o desenvolvimento da imaginação e liberar a criatividade, foi um enriquecimento pessoal sem precedente.
Trabalhar com esses jovens que vinham com uma carga tão pesada, de olhares reprovadores, de descrédito e desesperança, foi um exercício de humanidade e cidadania. Aprender a olhar o outro e valorizá-lo por suas potencialidades é uma maneira de estarmos mais conectados com a nossa humanidade e com o universo.
O físico quântico Amit Goswami disse em sua entrevista no Roda Viva que:
"A humanidade tem de acordar, escutar, ouvir, ver esse universo autoconsciente. Existem duas fortes tendências: uma nos leva a estados de ser cada vez mais condicionados, a outra nos leva para um lado mais criativo. Nesta idade tão materialista, o condicionamento que nós recebemos é muito intenso. Quanto mais condicionados ficamos, mais distantes estaremos da realidade quântica. Daí a criatividade e o amor serem muito importantes, pois são forças unificadoras que nos levam de volta à unidade."
Segundo Amit Goswami, a criatividade pode “nos ajudar a ver um sentido novo naquilo que todos vêem como algo comum”. Precisamos encontrar um “novo contexto para nossa criatividade e potencializá-lo”, precisamos estar atentos à “proposta universal para colaborar mais com ela”.

Ana Carmen Franco Nogueira

Bibliografia
ALESSANDRINI, Cristina Dias. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1996.
ANTUNES, Celso. Como desenvolver conteúdos explorando as inteligências múltiplas. RJ: Vozes, 2002.
_____ As inteligências múltiplas e seus estímulos. Edição 8ª. Campinas: Papirus, 2002

CIORNAI, Selma (org). Percursos em arteterapia: arteterapia gestáltica, arte me psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo. Summus, 2004.
URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas imagens. 3ª edição. Rio de Janeior. Wak, 2006.
A ponte entre a ciência e a religião. Transcrição completa da entrevista concedida pelo físico Amit Goswami ao programa "Roda Viva" da TV Cultura. Disponível em : http://www.saindodamatrix.com.br/archives/goswami.htm acesso em 13 de novembro de 06.

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